Commodities globais
Soja
Soja no Brasil
A década de 1960 marcou o início da produção de soja no Brasil. O plantio de soja nesse período aparece principalmente no sul do Brasil, associado ao cultivo de outros grãos, como feijão e arroz. A partir da década de 1970, o governo, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), investiu fortemente em pesquisas para melhorar e adaptar a espécie a climas mais quentes. Grandes investimentos em pesquisa genética, em complexos industriais, infraestrutura e projetos de colonização no centro-oeste do Brasil levaram a soja para o Cerrado (a savana brasileira) durante as décadas de 1980 e 1990. A expansão da soja no Cerrado foi desenvolvida juntamente com a instalação de grandes complexos agroindustriais por grandes corporações. No Cerrado, a produção de soja se concentrou principalmente em propriedades médias e grandes, ao contrário da região sul do país, onde os pequenos agricultores participam da cadeia de valor.
No final da década de 1980 e na década de 1990, a EMBRAPA iniciou as primeiras estações experimentais de plantio de soja na região amazônica, nos estados de Rondônia, Pará e Amazonas. O Plano Operacional da Política Agrícola do Estado do Pará, realizado no mesmo período, resultou na criação de vários polos de desenvolvimento agrícola no estado. Em Santarém, uma das estações do Pólo Agroindustrial e Agroflorestal do Oeste do Pará foi responsável por promover a produção de soja na região do Planalto Santareno.
Vários estudos apontam que o cultivo da cultura da soja na região do Tapajós ocorreu inicialmente em áreas de pastagem degradada, mas também em áreas de floresta nativa. A prática do desmatamento, a expulsão de pequenos agricultores e outras comunidades tradicionais e a grilagem de terras marcaram a chegada da soja na região. No início dos anos 2000, a instalação do porto da Cargill em Santarém e a indicação da pavimentação da BR-163 foram fatores decisivos para a rápida expansão da soja em todo o Planalto Santareno.
Dinâmica de uso e cobertura da terra no Planalto Santareno entre 1998 e 2021, região do Tapajós, Brasil.
Para toda a região do Tapajós, entre 2008 e 2021, a área destinada ao plantio de soja cresceu 60%, saltando de 3,5 milhões de hectares para 5,7 milhões de hectares. Em 2021, a região produziu aproximadamente 20 milhões de toneladas de soja (IBGE, 2023).
De acordo com a ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), em 2022, 61% da soja produzida no Brasil foi exportada, sendo 52% do farelo e 26% do óleo de soja. Os principais blocos econômicos importadores foram a China, seguida pelos países asiáticos (exceto a China) e a União Europeia. A UE representa 16% do mercado de importação de soja e 44% do mercado de importação de farelo de soja, constituindo-se no principal parceiro comercial desse produto derivado da soja. A participação dos portos do Arco Norte na exportação total de soja aumentou na última década. Em 2022, representou 38% da origem dos portos que exportam soja do Brasil, com destaque para São Luís (Maranhão), Barcarena e Santarém (Pará) e Manaus (Amazonas). Aproximadamente 60% da soja exportada pelos portos de Santarém e Itaituba, ambos no rio Tapajós, têm como destino a União Europeia, a Rússia e outros países europeus, como a Inglaterra.
Nos últimos 4 anos, a soja tem sido a principal carga transportada pelos rios no Brasil, representando cerca de 1/4 do total. Soja, milho e bauxita juntos representam 50% da carga transportada nos rios brasileiros (ANTAQ, 2023). A logística de transporte de minerais para exportação, como bauxita e aço, tem sido utilizada em conjunto por empresas do setor de agronegócios.
A expansão da plantação de soja e a infraestrutura associada a ela para produção, armazenamento, processamento (no caso do farelo e do óleo de soja), transporte e exportação levaram a uma série de violações de direitos humanos nas comunidades da região do Tapajós. A contaminação por agrotóxicos alterou drasticamente as formas de produção agroecológica e o manejo florestal, pois causam a morte de polinizadores e o aumento de pragas em zonas livres de agrotóxicos. Outro impacto de grande relevância consiste na apropriação de terras por grandes fazendeiros do sul do país, na expulsão de pequenos agricultores de assentamentos de Reforma Agrária e na produção ilegal em territórios indígenas e de outras comunidades tradicionais. Esses conflitos de terra levaram à perseguição de líderes, ataques e assassinatos.